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'Encontros relâmpago': solteiros trocam impessoalidade de aplicativos por 'speed date' em bar de Curitiba; conheça

'Encontros relâmpago': solteiros trocam impessoalidade de app por 'speed date' em Curitiba Proporcionar a pessoas solteiras a oportunidade de conhecer companhe...

'Encontros relâmpago': solteiros trocam impessoalidade de aplicativos por 'speed date' em bar de Curitiba; conheça
'Encontros relâmpago': solteiros trocam impessoalidade de aplicativos por 'speed date' em bar de Curitiba; conheça (Foto: Reprodução)

'Encontros relâmpago': solteiros trocam impessoalidade de app por 'speed date' em Curitiba Proporcionar a pessoas solteiras a oportunidade de conhecer companheiros ou amigos em potencial por meio de "encontros relâmpago". Este é o conceito do chamado "speed date", dinâmica que tem feito sucesso na noite curitibana – e que tem sido procurada especialmente por solteiros que não encontram mais nos aplicativos de relacionamento o aprofundamento que buscam em relações interpessoais. A dinâmica é realizada pelo Jaguara Bar, que promove estes encontros em datas específicas, anunciadas nas redes sociais. A proposta é simples: as pessoas solteiras que participam são divididas em grupos. Enquanto um permanece sentado, o outro troca de mesa a cada 10 minutos. Nesse tempo, o participante tem a oportunidade de conversar com todas as pessoas envolvidas ao menos uma vez. Ao fim de cada rodada, a pessoa pode voltar a conversar com aquelas que mais sentiu afinidade. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) indicam que, até 2022, 815.162 pessoas viviam em algum tipo de união em Curitiba. Muitos dos que não fazem parte dessa estatística integram grupos como os que vão aos "speed date", apostando em estratégias diferentes para encontrar um par ou um amigo. ✅ Siga o canal do g1 PR no WhatsApp Segundo Gabriel Figueira, dono do bar, a demanda para eventos voltados para os solteiros surgiu a partir de um pedido dos próprios clientes. Festas e música ao vivo não fazem parte do perfil do bar, por conta disso, Gabriel começou a pensar em alternativas para abraçar a proposta. O bar foi prudente. Antes de lançar o evento no formato de "speed date", consultou o próprio público por meio de enquetes e a ideia teve uma alta aceitação. A primeira edição foi no fim de junho deste ano. Desde então, várias outras foram realizadas, e o bar segue aprimorando o formato dos eventos. A primeira mudança foi a redução de participantes. Eles também começaram a criar recortes específicos de idade e orientação sexual. Eventos como o de 'speed dating' possibilitam encontros românticos, mas também novas amizades Isabela Nishijima Para participar é preciso fazer uma pré-inscrição, ser solteiro e ter mais que 18 anos. O valor de inscrição é de R$ 100, que é totalmente revertido em consumação. "Parte do evento é sobre a gente tentar criar uma atmosfera legal para as pessoas e recebê-las em um ambiente mais seguro para conhecer outras pessoas do que uma balada seria, por exemplo", afirma Gabriel. "O evento em si não é sobre você arranjar um casamento. É um evento de encontros e de você conhecer pessoas fora de uma formatação digital, totalmente filtrada, que você sempre vai acabar escolhendo o que te conforta. Nesse cenário, raramente você vai conversar com qualquer pessoa. O evento te dá essa oportunidade de, às vezes, trocar uma ideia com uma pessoa que pode te despertar uma amizade." Em 'off' A segurança e a privacidade são fatores importantes para os clientes que participam dos "speed dates". O g1 conversou com uma arquiteta de 31 anos que participou de um dos eventos e optou por não ser identificada. Ela soube do evento por meio de uma amiga do trabalho, que tinha participado de uma das edições e a incentivou a se inscrever. Inicialmente, a arquiteta recusou a ideia. Ela só reconsiderou a possibilidade depois que comentou sobre o evento com outra amiga, que topou acompanhá-la. "Pelo menos ia ter um suporte emocional caso desse tudo errado", brinca. Um dos motivos para o convencimento foi que a arquiteta não costumava usar aplicativos de relacionamento para conhecer pessoas. Ela, que se considera introvertida, chegou a conclusão que aplicativos não eram para ela. "Eu não sou de ficar conversando por mensagem. Então, para mim, o speed date foi uma alternativa para conhecer pessoas fora da minha bolha. Eu sempre estou andando com as mesmas pessoas, do trabalho, da faculdade, da pós, e não faço nenhuma outra atividade que eu consiga conhecer pessoas diferentes. Então realmente conheci pessoas que eu jamais encontraria em qualquer outro lugar. Nesse quesito eu achei super interessante", detalha. Demanda para eventos voltados para os solteiros surgiu a partir de um pedido dos próprios clientes do Jaguara Bar Jaguara Bar Ela, que foi sem expectativas ao evento de idade livre, deu "match" com um rapaz na última rodada de conversa. Apesar da diversão no dia, o romance não engatou para um segundo date. "Acho que por causa da zero expectativas que fui que acabou sendo legal. As conversas super fluíram. Eu até achei que eu ia ficar mais emperrada na hora de conversar, mas os caras também conseguiam puxar bastante assunto. Foi divertido", detalha. A experiência positiva levou a arquiteta, que antes nem conhecia o bar, a participar novamente do evento. Dessa vez, nenhum "match". 'Praça ateniense' Entre os retornos que teve, Gabriel lembra de um homem que foi ao evento com a premissa de conhecer o bar, já que gostava de drinks. Depois de participar do "speed date", se tornou cliente da casa e compartilhou com os funcionários que casou antes dos aplicativos de relacionamento existirem e, quando se divorciou, eles já eram uma realidade. Para ele, o "speed date" faz mais sentido na hora de conhecer novas pessoas. Gabriel compara o ambiente do bar com uma "praça ateniense", que na Grécia Antiga era o centro cívico, político, comercial e social, funcionando como um local para debates, assembleias e mercado. Para o empresário, o projeto tem a mesma lógica e, por conta do contato "frente a frente", o cliente acaba se "obrigando" a interagir com várias pessoas, a começar pelos atendentes. "Ele é um cara que chegou de paraquedas em um novo formato de conhecer pessoas, que para ele nunca existiu e não tem nenhum apelo real assim. O bar, em si, já tem uma atmosfera na qual você vai conversar com pessoas que você não escolhe necessariamente, mas que você consegue baixar um pouco a guarda e ter conversas legais." Diferença de expressão em encontros presenciais Gabriel Figueira compara o ambiente do bar com uma "praça ateniense" Bruno Regert O comportamento observado no negócio tem embasamento na ciência. O psicólogo Robson dos Santos Mello explica que os encontros presenciais possibilitam uma expressão diferente da escrita – majoritária nos aplicativos de relacionamento. "Esses equipamentos abrem um campo de possibilidade de expressão, mas a expressão, via de regra, é pela forma escrita. De algum modo, algo dessa via de encontro perde, sobretudo a possibilidade do uso da palavra falada. Poder falar, poder estar em presença", pontua. Para Robson, o contato por meio da fala, como em encontros presenciais, provoca outro tipo de relação interpessoal. "A linguagem não dá conta de tudo, mas acho que se perde um pouco mais no escrito. O corpo mobiliza. A presença mobiliza. O olhar mobiliza. Para Freud, nós somos sujeitos pulsionais. A pulsão está no corpo", explica Mello. Lógica dos aplicativos não atende mais aos jovens Ana Beatriz entrou nos aplicativos de relacionamento há cerca de dois anos e tem uma relação de vaivém com eles Arquivo Pessoal Ana Beatriz Portela entrou nos aplicativos de relacionamento há cerca de dois anos e tem uma relação de vaivém com eles. "Em alguns momentos eu entro, eu vejo, e vejo que não tem nada que me interessa lá, ou às vezes tem algo que me interessa e não vai para frente. Aí eu passo um tempão sem usar, passa uns meses e eu penso: 'Ah, será que mudou alguma coisa?'. Eu volto, confirmo que não mudou nada e eu paro de usar", detalha. Ela ainda não participou de nenhum "speed date", mas pretende se inscrever em breve, atraída pela possibilidade de ter trocas mais orgânicas com outras pessoas, o que, para ela, não acontece em aplicativos. "Existe muito essa ideia de se interessar por uma pessoa em uma situação real, em que você não vai precisar adicionar uma camada de performance que é a rede social, que tem toda a questão de se você vai seguir, não vai seguir, vai responder, não vai responder...", explica. Além disso, Ana aponta a superficialidade como um dos fatores de desinteresse pelos aplicativos: em muitos deles, a primeira informação com a qual você tem contato é o nome e a foto da pessoa, às vezes, sem nenhuma outra informação ou detalhes de interesses. "Aquela pessoa chama essa atenção fisicamente: sim ou não? É muito difícil você estabelecer qualquer tipo de conexão dessa forma. E aí você decidir ver se tem algo a mais, vai depender desse instinto inicial. Embora seja uma coisa que eu odeio pensar, por exemplo, que está acontecendo comigo, que as pessoas estão tendo que ter essas mesmas decisões a meu respeito, mas é a premissa desse tipo de aplicativo: você vai se basear primeiro na aparência e daí depois você vai ver o que acontece", afirma. Para o psicólogo Robson dos Santos Mello, a sociedade viveu um período em que o formato dos aplicativos era eficaz para conhecer e encontrar pessoas. Ele detalha que a ferramenta pode facilitar a expressão da subjetividade de algumas pessoas, porém, agora eles não são mais suficientes para preencher algumas lacunas. "É uma revisão. A gente está vivendo um momento em que este comportamento está sendo revisto. Nós somos pessoas dos sentidos e o equipamento não dá essa possibilidade", afirma. Uma vida em comunidade O psicólogo enxerga a pandemia da Covid-19 como um dos marcos para o resgate do contato físico, visão que é compartilhada por Ana Beatriz. Para a jovem, durante o isolamento, se perderam espaços em que existíamos como comunidade e a dinâmica social, impulsionada pelas redes sociais, mudou a forma como as pessoas se conhecem e se relacionam. "Pessoas da minha idade ou um pouco mais velhas ainda têm muitas referências de lugares na vida em que a gente existia fora das redes sociais. Por exemplo, você, quando criança ou adolescente, frequentava locais com seus amigos. Você ia para praças, ia para parques, lan house, e você conhecia pessoas dessa forma. Quando a gente vai ficando um pouco mais velho, é mais complicado, porque esses lugares param de existir um pouco", afirma. Ela classifica a ideia de "conhecer alguém só existindo no mundo, sem estar precisando necessariamente estar buscando alguém e se colocando nessa posição estar aberta" como distante. Para Ana Beatriz, eventos como o de "speed date" possibilitam não apenas encontros românticos, como também novas amizades e o reforço da comunidade. "Você vai conhecer várias pessoas, pode ser que algumas delas se tornem amigos, ou não dê em nada, mas você pode ter uma conexão mais direta. Você sabe, da mesma forma que em um aplicativo de namoro, porque que você está ali. Mas te dá essa possibilidade de ser mais sincero e honesto. Por mais que seja algo orquestrado, acaba se tornando mais orgânico do que uma coisa que vai ficar travada por mensagem até alguém decidir: 'Vamos sair'. E aí você perceber que você não tem nada em comum com aquela pessoa quando vocês já se combinaram de sair", afirma. LEIA TAMBÉM: Cultura: Após reclamações de vizinhos, empresários criam 'shows silenciosos' em Curitiba Meio ambiente: Paranaense cria aplicativo para pescadores denunciarem vazamento de petróleo na Baía de Guanabara Maria Bueno: Arquiteta que trabalha ao lado de onde santa popular de Curitiba foi assassinada é convidada, por coincidência, a reformular capela dela VÍDEOS: Mais assistidos do g1 Paraná Leia mais notícias no g1 Paraná.